Isto começa assim. Era uma Margarida cheia de pressa. A Margarida além de apressada era muito pespineta ó lá como se chamam às raparigas cheias de vontade de chegar ao tamanho dos grandes sem saberem que os grandes, às vezes, também querem chegar ao tamanho dos pequenos porque quando estão pequenos são mais felizes. A Margarida tinha uma mania que era andar sempre aos pulos, como também há muitos grandes que têm, e às vezes dão trambolhões de escadas e barrancos e ribanceiras e até de montanhas, porque nos pequenos, essa coisa das alturas é apenas o lugar de onde se tem a vista mais bonita.
(entretanto, do outro lado da casa…)
Será que a Margarida pode esperar mais um bocadinho? – perguntou o Martim. Margarida, espera! grita o Martim, de coelha mãe debaixo do braço e regador na mão. Em correria louca segue a flor mais jovem do meu quintal, e quase em simultâneo aterram ambos no canteiro dos amores-perfeitos!
Não sei se já perceberam, mas a Margarida podia ser uma flor (uma trepadeira ou uma sequóia ou um baobab). Podia, mas não lhe deu para aí. Ela tem grandes olhos castanhos (o caule) e na cabeça saltitam-lhe caracóis como limos verdes, porque além de andar aos pulos o dia todo, a Margarida gosta de dormir a sesta (sim, uma coelha também dorme), numa toca no quintal das traseiras da nossa casa que é a casa de um esquilo que gostava de ser aviador. A Margarida no fundo no fundo queria era ser coelha, enquanto o Martim ficava contente se já chegasse a carro de corrida, ou como lhe chamamos cá em casa, a carapau de corrida.