“Ele há coisa mais superlativa? A sensação de estar vivo, a envelhecer saudável. O alive and kicking. O poder de ser(mos) homos artisticus em tudo o que fazemos. Ainda que ela seja frágil, complexa, contraditória, e breve, ou breve para tanto quanto se pode fazer com ela.
2. A paixão
Nada na vida, na minha pelo menos, é feito sem paixão. Pode ser um escrito, um abraço, uma corrida. Pode ser guiar um estrangeiro nas ruas da minha cidade. Pode ser responder a um inquérito. Tem que haver fogo. Fogo criador.
3. A casa
Seja a viajar e ter como casa de ocasião um quarto de hotel, seja a casa onde moram os meus amores (a família, os livros, os discos, os quadros), é lá que renasço. Ter uma vista como uma gávea é imperativo.
4.Livros
Nunca estive um dia sem um livro. Um livro a ler. A livro a escrever. Um livro como um gato a quem possa aconchegar.
5. Carros
O meu avô Gomes tinha um stand. Cresci entre carros, quando ainda se podiam distinguir ao detalhe as marcas e os modelos. Por exemplo, o Fiat 600, o Mini, o Austin. Lembro-me de andar no Lotus Elan do meu pai e experimentar a adrenalina de um Fangio. Tinha uma colecção infindável de carrinhos de brincar e uma das minhas brincadeiras favoritas era desenhar os meus próprios circuitos. Um dia, prometi ao meu botão esquerdo, terei um Aston Martin e/ou um Ferrari 330.
6. Viajar
Parece que há um gene responsável pelo instinto de partir. Esse habita-me desde os tempos de criança no bairro de Alvalade. Morar ao lado do aeroporto e ver os aviões a passar rente à janela do meu quarto deve ter aguçado o desassossego. Não pretendo encontrar a cura.
7. Yoga
O professor Carlos Rui do Centro Português de Yoga é o grande responsável por este amor tardio. Esticar o esqueleto todos os dias passou a ser uma questão de vida, na esperança de chegar a velho mais espadaúdo ou sem a marreca típica dos Salazares.
8. Charutos
O meu amigo Eduardo Miragaia, velho camarada do Jornalismo, iniciou-me neste prazer superlativo. É um ritual nocturno, sobretudo, ter um puro entredentes, e vê-lo dissipar-se num fumo lento, como tudo o que é importante, deve ser feito com o vagar de quem sobe.
9. Piano
O som do piano tocado de forma exímia (por um João Paulo Esteves da Silva, por exemplo, outra figura máxima na minha vida), é uma das forças vitais do meu equilíbrio. Glen Gould, Keith Jarret, são parte do meu ideal de Olimpo.
10. Sexo
Ficou para o fim, mas podia estar no princípio. Pode ser lido de viés, dito assim, mas como imaginar a Vida sem os prazeres de Eros (ou de Cápua)? Aprendi umas coisas a ler o Henry Miller, muito além da pornografia. Coisas da vida como ela é sem filtros. O sexo de que falo é o do sexo movido a amor, essa matéria de peso e maior enigma da humanidade em sobressalto.