Menino de rua nascido à 3 pancadas, adulto auto didacta salvo por uma biblioteca e uma avó, pai sentimental e consciente dos seus deveres e direitos, cioso de um lar, uma família, um lugar de paz e prosperidade. Este também sou eu.
Creio ser este também digno de ser muito amado e respeitado. Envelhecer bem é saber que aos 45 anos posso manter a juventude sem daí me vir ao mundo infantilidade. Felizmente saudável, felizmente são de espírito e resiliente entre tanto ressentimento, mágoa, revolta e desengano, tenho uma ideia da vida muito selectiva.
Na minha ideia de mundo bonito entra quem é do amor. Quem é da comunicação. Quem é a da sinceridade. Por mais que as palavras sejam uma forma de beleza suprema, nada substitui a riqueza do perdão genuíno que pode estar num abraço pacífico, num beijo apaixonado, no fazer amor sem reservas. Digo-te o que sinto: não me sinto à altura do homem (do pai, do companheiro) que sonhaste-pensaste, embora me sinta um Homem em todos os sentidos da palavra e felizmente seja habitado pela auto-estima, de outro modo já teria sucumbido.
Não se deve confundir isto com soberba.
É apenas o reflexo de ter crescido a levar porrada e das duas uma: ou era espezinhado, ou reagia com sentido de justiça. Sinto que tudo é possível de renascer, porque até do holocausto renascem flores. Olha-se para o que foi como uma aprendizagem e avança-se com o perdão e a aceitação presentes. Olha-se o outro com olhos de amor.