Esta palavra não está ali atrás por acaso. Podia estar SEXO ou BENFICA. São palavras ecoosas (uma palavra que não existe mas podia existir). Têm o condão de atiçar as sinapses, para o bem e para o mal. De que falamos quando falamos de dinheiro? Necessidade, antes de mais. Seria necessário, no prolongar evidente desta pandemia – e das que mais cedo ou mais tarde virão -, melhores formas de aplacar os que caem por serem mais frágeis, já que os que morrem só contam para as estatísticas. Agir numa lógica cooperativa (sem mulas) em que os de cima ajudam os de baixo. Entre os de cima estão os governos, os ricos, os mais habilitados a agir num sentido comunal e a garantir a repartição da riqueza, porque embora também lerpem os ricos de uma qualquer doença, quem mais morre são os que não podem ter a ajuda devida. A doação de um salário do Dr. Mexia, por exemplo, estou certo de que daria para sustentar a despesa de um mês aos habitantes carenciados do bairro do Areeiro.
Não morrerão portugueses, para falar só dos nossos indígenas, apenas vítimas do vírus, se não houver o cuidado imediato em acelerar medidas de apoio generalizadas. Alguns morrerão de fome. A peregrina ideia abatida por petição do RTP Fest demonstra que nem todos dormem. Em França, já há muitos anos que se instituiu um rendimento básico garantido para artistas (fora outras formas de subsídio), de molde a estes poderem ter comida e tecto assegurados. É uma ideia bem esgalhada, digamos assim, que muitos acharão um convite para a preguiça. Pobre do artista que se contenta com um rendimento básico para se tornar inepto na sua labuta. O desejo da inutilidade de Hugo Pratt e o Direito à Preguiça, como o reclamou Paul Lafargue, são dois bons exemplos de que há arte no fazer nada.
Há uma anedota de um pescador de caranguejos que pesca sentado com um balde ao lado destapado. Alguém passa e avisa-o de que os caranguejos estão a tentar escapar-se, ao que o pescador responde, não se preocupe são de raça portuguesa, quando um se está a escapar vem o debaixo e puxa-lhe as patas.
Talvez seja hora de lhes dar cabo da raça.
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