Paco de Lucía faz parte das minhas figuras paternas. Lembro-me da minha mãe, no seu passado de mestra de cerimónias, me levar à boîte Charlie Brown para conhecer um amigo.
O amigo era Paco de Lucía. Imberbe nos meus anos de pré-adolescente, e infanto-juvenil na idade e nos conhecimentos musicais, apenas retive a simpatia risonha do cigano, que me pôs na sua perna a trautear um fandango e engraçou com a minha cabeleira queimada pelo sol e de caracóis como labaredas.
Anos mais tarde, vi uma fotografia do cigano a enlaçar a minha mãe pela cintura como se abraçasse a sua guitarra na véspera de um adagio (ou de um alegro vivace).
Ciganos vão bem com a minha pele e deles nunca me afasto, nem os receio mais do que aos políticos na arte do gamanço. O cigano Paco foi-se num rompante cardíaco numa praia de Cancun. Morreu como viveu e como morrem e vivem os passionais: partindo depressa como quem parte depois de deixar um rasto cavado na galáxia dos mortais.