• Skip to primary navigation
  • Skip to main content

Tiago Salazar

O 'Moturista' acidental em Lisboa

  • Quem sou
  • Who am I
  • Livros
  • Contacto
You are here: Home / Diário / O Trabalho Liberta
O Trabalho Liberta

O Trabalho Liberta

Outubro 23, 2017 por tiagosalazar.com

O meu primeiro trabalho, à jorna, foi na vindima da Quinta da Murta, no Cadaval. Acordava às 4h30 e na alvorada juntava-me aos homens e mulheres, para um dia de tesourada e carrego. Tinha 13 anos.

O motivo era ganhar uns cobres para comprar uma Semente (uma prancha de surf), mas dei por mim a sentir o contentamento de ter o retorno justo por conta de um trabalho honesto. Era trabalho pesado, se entendermos como tal acordar noite cerrada, sair a monte entre desconhecidos a cheirar a cebola num tractor a tresandar a caca de rato e terebintina, ainda noite gelada, andar agachado a cortar esgalhas, estraçalhar os dedos sem de que de nada valessem umas luvas de coiro, e acabar o dia cheio de dores e mazelas, refastelado numa velha banheira de esmalte caserna.

De então para cá, nunca mais parei de fazer o que quer que fosse para ter a mesada (ou a semanada) que nunca tive. Fui desde caddie, a vendedor de bolas de golfe apanhadas nos matos e silvas, nadador salvador, explicador de inglês, estafeta, e, aos 18 anos, estreei-me no Jornalismo como aprendiz de ilustres figuras como o Eduardo Miragaia, a Maria Augusta Silva, o Ferreira Fernandes e o Eurico de Barros para nomear só alguns. Tive a sorte de conhecer muito cedo o valor das palavras brio e tarimba. Eram horas infindas a ler jornais e revistas (antes do mundo virtual), a escrever à mão e à máquina, a andar no batente atrás de histórias, por vezes com incidentes violentos, por conta de entrevistados desavindos, e gente pouco interessada em ser confrontada com a verdade. Nunca deixei o jornalismo como se abandona uma arte caduca, e hoje, 27 anos depois, sempre que há razões para contar uma história, é por este ofício que atalho.
Escrevo todos os dias, uma linha que seja, e por vezes, rasgo-a ou apago-a, por nada lhe sentir.

Acumulo há anos trabalhos para ganhar a vida, quase todos onde quadre a comunicação, seja o de guia, chófer, carregador de pianos ou o diabo a 7. Digo-o com orgulho de plebeu, sabendo como é injusto olhar para quem anda na estrada, a viajar e a escrever, sem ser a conduzir um TIR, achando ser esse ofício menor, sem lhe reconhecer seriedade, quando andar na rua, entre os homens, longe dos púlpitos dos inacessíveis, é o mais sério e fundo que um homem pode para saber como é duro para a maioria ganhar com honra a vida.

Filed Under: Diário Tagged With: Trabalho

© 2023 · Tiago Salazar · Por Kaksi Media

  • Política de Privacidade
  • Termos & Condições
Este website usa cookies para melhorar a experiência do utilizador. Quando fechar esta mensagem confirma que concorda com o seu uso.Aceitar Saber mais
Política de Privacidade

Privacy Overview

This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary
Sempre activado
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Non-necessary
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.
GUARDAR E ACEITAR