• Skip to primary navigation
  • Skip to main content

Tiago Salazar

O 'Moturista' acidental em Lisboa

  • Quem sou
  • Who am I
  • Livros
  • Contacto
You are here: Home / Diário / Rondas da Noite
Rondas da Noite

Rondas da Noite

Novembro 6, 2017 por tiagosalazar.com

Nos idos anos 90 a Kapital era um clube da moda. Entrar na fortaleza dos irmãos Rocha significava ter a caução do Olimpo. Os anónimos e sem cheta como eu tentavam a sorte, e se os porteiros amáveis estivessem para aí virados (diante de uma nota gorda), lá se tinha a lotaria da passadeira desimpedida.

A forma de barrar a entrada era patibular: pagar a taxa máxima (5000 escudos). Bastava dizer com um sorriso lacónico que a roupa não condizia com o perfil da casa para deixar à porta o candidato ao templo. Por exemplo, aparecer no portal dos Zeus com umas calças à boca de sino, uns sapatos de bico, um blazer de cor garrida, um papillon vistoso ou um penteado de cabeleireiro subversivo era assinar a sentença do degredo dos párias.

Um dia, por protestar contra as regras pífias da casa K, fui agarrado pelo cachaço como um gato mal comportado e largado no meio da Av. 24 de Julho com o dichote de que da próxima seria pior. Ou seja, uns sopapos à fuzileiro, e alcatrão e penas. Nunca percebi as políticas do bastão e da cenoura. Mas por causa das tosses e das agruras da vida de animal social, lá fui inscrever-me no boxe do Sporting, a única afinidade com a família K.

Um dia voltei a ser assíduo da Kapital por conta de uma amizade providencial, o porteiro Miguel Ângelo, que por conta de uma entrevista me fez persona grata. Durante um tempo, encarei as saídas nocturnas como um exercício de sociologia. Vi gente sem nada a apontar a não ser a cor da pele ou a roupa mal enjorcada (segundo os padrões de gosto da casa K) bater em retirada ou ser corrida a pontapé se lhes dava para reagir à sentença. No caso da semana, o 38º episódio de violência gratuita num dos 30 estabelecimentos dos senhores K, o mais insólito é ouvir um causídico de defesa dos ursos dizer que o problema dos seus clientes foi o dia ter corrido mal.

Como se a azia nocturna do profissional encartado para zelar pela segurança pudesse justificar um arraial de porrada a um frango de aviário rodeado de pintainhos aflitos cuja única ameaça partiu de uma suspeita infundada de estarem ali ao ataque de carteiras de turistas desprotegidos.

Photo credit: rot grad via Foter.com / CC BY-NC-ND

Filed Under: Diário

© 2023 · Tiago Salazar · Por Kaksi Media

  • Política de Privacidade
  • Termos & Condições
Este website usa cookies para melhorar a experiência do utilizador. Quando fechar esta mensagem confirma que concorda com o seu uso.Aceitar Saber mais
Política de Privacidade

Privacy Overview

This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary
Sempre activado
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. This category only includes cookies that ensures basic functionalities and security features of the website. These cookies do not store any personal information.
Non-necessary
Any cookies that may not be particularly necessary for the website to function and is used specifically to collect user personal data via analytics, ads, other embedded contents are termed as non-necessary cookies. It is mandatory to procure user consent prior to running these cookies on your website.
GUARDAR E ACEITAR