A vida, as pessoas, tudo muda. Tudo se extingue, em última instância.
Pouco ou nada sabemos, e escrever, por exemplo, pode ser apenas uma forma mais ou menos tosca de dar corpo ao pensamento-sentimento. Sinto que a fé e a esperança tremeluzem. Sinto-te triste, desiludida e talvez deprimida.
Cantar e saíres devem ser das poucas coisas onde ainda que mascarada deverás cessar os pensamentos da embrulhada onde estás metida. É como eu com a rua, o trabalho, uma vulgar caminhada. O segredo sem enigma é que estes ínfimos escapes, um passeio, o ver o mar, a gratidão de se viver num lugar assim como Lisboa, rente ao Tejo, e ainda poder ter a sorte de ter os filhos num colégio e aspirar a uma casa bonita, podem valer tudo, quando nesse tudo já tantas vezes se sente terem sido gastas todas as palavras.
Quando penso em ir falar como uma pessoa como a Dra. Eva, que nos conhece a todos, penso em ter soluções que me escapam. Somos diferentes no exterior, no revestimento, mas na essência somos apenas dois seres humanos magoados, sofridos, medrosos do desconhecido, do porvir. Posso tentar aqui dizer-te que para mim o caminho é este: vender tudo o que está em Almeirim, tirando o que te traga boas memórias, acabar com a pena, reconstituir factualmente a história que levou a esta dureza, dar caça ao Melo e Cª, entregando a quem sabe, e viver com um plano e ciente dos limites. No fundo, é de um problema de confiança que falamos, e não a havendo plena, não pode haver entrega afim.
Vale para os dois. Zangados, magoados, traídos, são sentimentos que decerto experimentámos e experimentamos. E nessas alturas, o mais certo é pormos tudo em causa. Queres verdadeiramente que eu saia da tua vida amorosa? Não creio. Queres paz. Queres estar bem. Queres alegria. Queres sair da melancolia que corrói.
Isso pode fazer-se em conjunto no lugar de cada um procurar a sua solução. Não sou terapeuta de almas, não sou pregador impoluto e não tenho a varinha mágica, mas já vivi o suficiente para estar certo de que Amar, amar bem, amar bonito, amar maduro, é aceitar o outro sem reservas, ainda que nesse outro habitem os paradoxos, os obscuros e a incerteza, próprios da falibilidade, da fragilidade e da fraqueza a que todos, sem excepção, estamos sujeitos.
Não é por amor à família que te escrevo. É por amor a ti e ao ser humano que vejo no fundo dos teus olhos cansados e tristes onde quero voltar a ver refulgir o brilho de uma menina.