Segundo o calendário gregoriano, quando forem as 4h20 da matina perfazerei 45 anos de idade biológica (grato aos meus pais por terem ido pernoitar e dar cambalhotas à praia da Ursa e me terem abençoado com os genes do vigor atlântico).
Em teoria, vou a meio de uma vida. Se houver outras, e se outras já vivi, esta é a que me cabe viver por ora. E em boa hora a confesso ter vivido so far ou como soe dizer-se, até à data.
Há dias em que o cansaço próprio da meia-idade me toma conta dos carraços, mas ainda conservo, lá onde a vista não alcança, a pujança elefantina dos vikings minhotos e a teimosia dos mouros ribatejanos. Sou um misto de homem de Neanderthal com um tal de Johnny Depp (menos acabado). Isto, a par de uma estatura mediana de um europeu do Sul, reveste a minha auto-estima de uma aura nórdica.
Quando já nada mais convém à minha infinita tristeza de estar mais velho, digo ao meu botão esquerdo que envelhecer é do caraças (com um sorriso malandro, como o da fotografia anexada). Para todos os efeitos, ainda levanto uma carroça, avio uma grade de minis e no braço de ferro com menores enfezados raramente perco. Sou um poeta de Pondichéry que nunca escreveu um poema de jeito e por isso faz rimas traquinas como esta, escrita aos 35, revista e aumentada.
Há quem espere o Salazar
Há quem espere o Sebastião
Eu cá sou espero bazar
Com um surto de tesão
Nada mais quero desta vida
Amor com tudo, bacalhau e paixão
Baguito, dentes brancos e uma ermida
Para agasalhar os males da tensão