Finou-se Fidel, El Comandante, o barbudo mais célebre da segunda metade do século XX, guerrilheiro, causídico e putativo carniceiro, e o mundo divide-se, incluindo a Lusitânia onde pululam os detractores e simpatizantes sem vislumbre de neutrais. A simpatia por revolucionários tenho-a mais vincada por um benigno Krishnamurti ou assim.
Entre os diabos promíscuos, ávidos e de fatiotas endomingadas de Fulgêncio Baptista e Lucky Luciano e os virtuosos depositores do regime fascista, salvam-se, por morte prematura, El Che ou Camilo Cienfuegos, ambos postos ao fresco pelo tirano Fidel.
Fidel nunca passou disso, de um tirano obtuso, apostado em fazer da sua profana ilha um modelo de estóicas virtudes à custa da ordem estabelecida pelo seu diktat. Vi com os meus próprios olhos a ilha virtuosa entregue a outro tipo de capos, tão ou mais pérfidos na defesa da sua obra de sanha como os depostos acólitos da América gananciosa e prostituta.
Não me sairá nunca da cabeça o passeio a céu aberto com um velho engenheiro, arrumador de cadeiras no balneário do Malecón, a mostrar-me comovido onde dias antes tinham sido abatidos uma resma de jovens esperançados na fuga de balsas (com o rasto de sangue ainda à vista), tal como a fila de jiniteras diplomadas de Varadero a piscarem os olhos tristes em troca de um prato de comida.
Fidel, ditador de longevidade olímpica, nunca permitiu a liberdade que é a possibilidade de estar contra lado a lado numa coabitação pacífica onde vigore a lei mais cimeira, a da igualdade. Torturou, amesquinhou, fuzilou, convidou ao exílio, todos aqueles em quem viu opositores, como o fizeram um Salazar, um Hitler, um Nero ou um Calígula.
A absolvição da História teve-a na forma da impunidade de ter gozado dos privilégios de qualquer tirano durante a maior parte da vida, partindo do reino da Terra em pó, como qualquer humano finito e falível.