Uma senhora jornalista escreveu há dias num meio de comunicação social a propósito de Festivais Literários. Fiquei honrado e pasmado com o facto de o meu nome aparecer como um escritor assíduo dos ditos, lado a lado com ilustres e prezados e premiados escritores como João Tordo ou Afonso Cruz, isto quando tal honraria apenas reflecte o facto (e não o factor) de ter trabalho para mostrar-falar-partilhar.
O artigo vale o que vale, tal como os motivos dos artigos valem o que valem os títulos onde escrevem. O mais importante aqui, digo eu como participante regular é esclarecer o seguinte: os Festivais literários, pese o facto de serem um negócio melhor ou pior para quem os dinamiza, sejam os curadores, os mentores, os patronos ou os agentes diligentes, são ainda uma das maneiras mais avisadas de levar ao conhecimento público quem faz da escrita um dos seus ofícios (ofício exclusivo farão muito poucos).
O artigo sugere uma certa promiscuidade, digamos assim, uma espécie de negociata tácita que leva a fazer dos festivais um clube dos amigos do bolinha, onde se juntam sempre os mesmos, ficando de fora outros, pelo simples facto de não fazerem parte da companhia, dos agenciados. Diria, com o chamado saber de experiências feito, que muitas das coisas da vida se fazem dessa condição de ser conhecido de alguém, ou parte do sistema, tal como escrever num título, ser de um clube desportivo ou ser convidado para as Academias.
Seria mais interessante falar do facto de o oportunismo festivaleiro ser uma das formas de levar os autores não a passearem e comerem e beberem, mas a darem um pouco de si a quem os lê e procura, que é para isso que também serve a escrita na sua infinita inutilidade.
«O papel da arte é esse; transformar o que continuamente nos acontece, transformar tudo isso em símbolos, em música, em algo que possa perdurar na memória dos homens…»; Jorge Luis Borges; 1899-1986